quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Por uma visão menos padronizada da realidade



É difícil acordar às quinze para as quatro da manhã quando há em seu quarto uma água-viva no teto se espalhando, brincando com as paredes, mesmo que gentilmente desapareça quando você, nada gentil, acende um cigarro, quero, ou deveria dizer, as luzes. Sim! Julio Cortázar, não te esqueci, e pode aguardar suas traduções e biografia. Pero, no entanto, este agora é um outro momento, das paredes brancas, de apagar o verde e o roxo dos lugares para dar espaço a uma nova vida e outros assuntos. As viagens e as oportunidades neste ano serão muitas, Houston, Buenos Aires, Madrid, Paris, Lisboa, quem sabe Calgary, no Canadá. Era uma vez o rock progressivo. Não consigo entender como uma banda de rock progressivo fantástica como o Genesis, pós-Peter Gabriel, início dos anos 70, de A Trick of the Tail e Wind and Wuthering, sempre com grande bateristas, Bill Bruford, acabado de sair do King Crimson, Chester Thompson, do Weather Report e de Frank Zappa, e o próprio Phil Collins, se transformou na que era ontem, ali, na década de 80 e 90. Olá, eu também sou Oliveira, Jocy, mas provavelmente nossas famílias não possuem nenhum laço ou vínculo, nossas vidas, nenhum traço em comum até agora, quando, ás quatro da manhã, leio o seu livro e aquela estória da mulher em estado de transe mediúnico que sobe ao palco para dar um passe na orquestra. Ou isso de lançar ao mar um piano Steinway como ícone de uma alta cultura submergindo. As idéias, imagens e páginas me catapultam da cama para escrever esse imerso bloco de notas. E tudo isso, sem contar meus pensamentos em Elisa, Laura e os móveis que – finalmente – compramos ontem e devem chegar na sexta-feira. Agora, queremos saber como vamos acomodá-los junto à bateria, pensamento este que tenho ainda vendo as medusas à minha frente, brincando zombeteiras na parede: é engraçado pensar que o tipo de objeto em lugares privilegiados em uma casa reflete (pode ser) a importância que se dá em determinados tempos à um rádio, à um televisor, ao computador. É engraçado pensar na família para qual um simples eletrodoméstico – tal qual um liquidificador, ou quem sabe uma geladeira – possa ser colocado no epicentro da casa, feito principal ornamento e alçado à qualidade de totem magnífico. Laura e os estranhos bichos de pelúcia que compro a cada viagem: uma girafa de pescoço minúsculo, um cavalo de pernas longuíssimas, o elefante roxo e sua tromba gigante, o macaco de orelhas desproporcionais e por aí vamos. Quem sabe assim ela possa adquirir uma visão menos padronizada da realidade e consiga valorizar às diferenças, com o mínimo de estranhamento. E agora, novamente ao sono (mesmo guardado há tanto tempo já, um macaco gigante irá surgir na janela antes mesmo que eu possa terminar de escrever estas últimas palavras. Eu sei).

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