segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Anotação #3

Anotação #3 Tradutor: the writer next door

O ubíquo Ezra Pound adestra, em seu “ABC da Literatura” que toda afirmação geral é como um cheque emitido contra um banco – seu valor depende do que está lá para responder por ele. “Se o Sr. Rockefeller emite um cheque de um milhão de dólares, o cheque é bom. Se eu fizer o mesmo, é uma piada ou uma fraude, ele não tem nenhum valor”, informa EP. “O mesmo se aplica a cheques relativos ao conhecimento. Se Marcone diz alguma coisa a respeito de ondas curtas, isso significa algo”. “A referencia de um escritor é o seu ‘nome’. Depois de certo tempo, ele passa a ter crédito”.
Os precursores da poesia concreta no Brasil – Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari etc, com suas traduções de textos complexos como os Cantos, de Ezra Pound e o Finnegan’s Wake, de Joyce, o “Lance de Dados”, de Mallarmé, e suas formulações acerca da tradução poética buscavam – e alcançaram, esse fundo na conta, esse crédito que financiou suas transcriações e a firmeza do movimento concretista [e todo um catálogo fundamental da Perspectiva e as coleções Debates e Signos].
Levando em consideração a deixa de Borges – o autor enquanto “escritor anterior”, logo o tradutor seria um “escritor posterior”, hoje a informação do nome do tradutor é quase tão importante quanto aquele na capa do livro, coisa que deveria ser valorizada pelas revistas e suplementos (sempre que sou convidado a escrever uma resenha faço questão de indicar e até mesmo entrevistar, quando possível, o tradutor, pois, como diz Borges, ele conhece a obra melhor do que o autor, logo, o que diriam alguns críticos).
Já faz um bom tempo, compro livros pelo nome do tradutor (quando não há edição no original disponível, e/ou, quando sei que o texto traduzido pode representar o fio de algum labirinto).

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