segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Anotação #4

Anotação #4 – O leão é feito de carneiros assimilados

O leão é feito de carneiros assimilados [1]. Não há obra absolutamente pura, não contaminada, mas sim a impossibilidade do novo, da existência de originalidade absoluta.
Todo tradutor é um perseguidor que busca, no labirinto dos significados, o encontro com a palavra, com o texto e, em alguns casos, consigo. Davi Arrigucci Jr, em o Escorpião Encalacrado, lembra a interpretação dada ao mito de Narciso por Paul Valéry (em Fragments du Narcysse). Nessa interpretação, o amor a si mesmo converte-se em ver a si mesmo, pensar a si mesmo, tornar-se consciente de si em uma experiência positiva de apropriação (“uma idéia roubada ou palavras pedidas de empréstimo”, segundo Silviano Santiago), recriação (“liberar a língua do cativeiro da obra por meio da recriação – essa é a tarefa do tradutor, segundo Walter Benjamin) e processo de aperfeiçoamento literário e formação da identidade (no caso da literatura, autoral).
Ana C, que buscava a cumplicidade – essa palavra-chave, em Emily Dickinson, Sylvia PLath e Katherine Mansfield, e também utilizava os verbetes-guia (notas de rodapé com estudos de vocabulário), é o primeiro exemplo que me ocorre.
Tradução é desdobramento e rejeitar as soluções mais fáceis.

[1] Le lion est fait de mouton assimile, Paul Valéry.

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