quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O Senhor dos Castelos e de Silvalandia

Por Cassiano Viana
Publicado em Agosto/2007 no site Cronópios

Nascido em Buenos Aires, o artista plástico Julio Hector Silva foi durante décadas o principal capista e diagramador da obra do escritor argentino Julio Cortázar, que completaria, no próximo 26 de agosto, 93 anos. Pelo menos três livros fundamentais da obra cortazariana devem muito à imaginação e criatividade de Julio Silva: A volta ao dia em oitenta mundos, Ultimo round (os dois livros-almanaques) e Silvalandia, este último, escrito em um processo inverso: os textos surgiram a partir das imagens e não o contrário.

“Fui aluno de Leopoldo Marechal [poeta, novelista, dramaturgo e ensaísta, um dos grandes escritores argentinos do século XX, autor de Adán Buenosayres, de 1948] quando este ainda era professor da escola primária. Eu tinha 11 anos e isso foi muito importante para mim. Tive outros encontros com "hombres remarcables": Juan Batlle Planas, Juan Andralis, Roberto Aizemberg e Jorge Kleiman, todos grandes pintores”, conta, de Turim, Julio Silva.

Julio foi embora de Buenos Aires em agosto de 1959. “Tinha 29 anos quando cheguei em Paris, torcendo para não voltar mais. No caminho para Paris, o barco parou no Rio e em São Paulo. Foi divertido, mas quase perco o barco pois para os brasileiros o tempo deve ser elástico como uma borracha”, recorda.

Pouco tempo após chegar em Paris, Silva foi conhecer o outro Julio. “Em setembro do mesmo ano fui visitar Cortázar em seu trabalho na Unesco, levando recados de amigos que haviam lido já alguns de seus primeiros livros. Dali, me convidou para conhecer sua casa”, conta. “Cortázar se queixava da maneira como editavam seus livros. Propus minha colaboração e assim começou a história”.

Aos 77 anos, vivendo entre Itália e Paris, Julio Silva continua pintando e organizando uma exposição em um castelo medieval de Malgrate (Villafranca, Lunigiana, Itália), de 4 a 31 de agosto.

“Para mim, o pintor é um escritor de imagens. O desenho é uma mulher sem maquiagem e a pintura a cosmética total. O desenho é o gesto veloz de sacar o lápis dos lábios e a pintura a demora em retorná-lo ao lugar de origem. As imagens são como mulheres que vem, se instalam e vão. Quando uma parte, é preciso recomeçar e partir para a conquista de uma outra, de uma nova companheira e adaptar-se aos seus caprichos, a sua maneira de viver, de amar. O desenho é meu exercício cotidiano. Não faço mais que responder ao máximo aos meus impulsos”, diz o artista plástico.

“Quando comecei, pintava como um velho. Para renascer é preciso desfazer-se dos atavismos culturais, de todos os freios que nos impedem de chegar ao lugar ideal. Não se chega por cansaço e sim por despojamento”, diz Julio Silva.

Disponível em: http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=2658

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